Os serviços de streaming e a sua influência no comportamento da sociedade atual

Victor Monteiro
10 min readJun 30, 2018

Sair ou assistir Netflix, eis a questão

A empresa oferece o maior serviço de entretenimento por internet do mundo

Por Carlos Eduardo e Victor Monteiro

A plataforma começou como um serviço online de locação de filmes e entrega de DVDs pelo correio ainda em 1997 e alcançou números estratosféricos nos últimos anos: Mais de 117 milhões de assinantes espalhados em mais de 190 países. Ao oferecer um enorme catálogo de filmes e séries, disponíveis 24 horas por dia e compatível com praticamente qualquer tela conectada à internet, a Netflix revolucionou a forma de consumir produções audiovisuais.

Nesse vídeo o canal TecMundo conta toda a história da Netflix

Entretanto, as mais de 140 milhões de horas diárias investidas pelos assinantes de todo mundo indicam que a Empresa não impactou somente o modo e a frequência do consumo de filmes e séries. A plataforma também passou a exercer influência sobre o comportamento em sociedade. No momento em que uma pessoa escolhe “maratonar” sua série preferida ao invés de passear no shopping, por exemplo, é possível começar a dimensionar o impacto da Netflix nas relações interpessoais.

O site CordCutting fez um levantamento com base nos dados oficiais disponibilizados pela Netflix e calculou quanto tempo em média os assinantes passam utilizando o serviço. Segundo o site, a média global é de 100 minutos gastos por dia pelos usuários assistindo ao conteúdo do serviço de streaming.

Porcentagem do tempo gasto por usuários na utilização dos variados serviços streaming de vídeo

Dedicar horas e mais horas à plataforma foi tratado, inicialmente, como uma febre mundial. Mas o aprimoramento dos serviços oferecidos pela Empresa e a crescente popularização das produções entre os consumidores, fez com que “assistir Netflix” se tornasse um hábito e se consolidasse como um comportamento cada vez mais comum no mundo contemporâneo.

E sabedora de toda a influência que possui, a Netflix tem tentado entender melhor o efeito de seus serviços sobre as relações entre os consumidores da plataforma. Em 2016 a Empresa encomendou uma pesquisa da consultoria Ipsos que revelou dados relevantes para a discussão dos impactos da Netflix sobre os novos comportamentos da sociedade. Segundo o estudo, 58% das pessoas utilizam suas séries e filmes prediletos como um critério para medir a compatibilidade com possíveis parceiros amorosos. Outro dado importante é que 51% das pessoas entrevistadas acreditam que compartilhar a senha da conta da Netflix é um grande passo no relacionamento.

Muito embora a plataforma seja instantaneamente ligada à diversão e ao entretenimento, a Netflix também pode causar malefícios comportamentais. O exagero na hora de assistir uma série pode trazer danos físicos, como a exaustão, e danos psicológicos, como uma antissociabilidade extrema. O psicólogo Rodrigo Romão defende que o consumo da Netflix deve ser moderado e que os excessos podem acarretar problemas emocionais e comportamentos degradantes para a saúde.

“Os serviços de streaming de filmes e seriados como a Netflix oferecem muitos benefícios para os assinantes, onde é proporcionado a possibilidade de assistir a vários capítulos de uma produção sem parar. Nos Estados Unidos, esse hábito ganhou o nome de “binge watching”, o que significa fazer uma maratona de séries, ou assistir a uma temporada de uma só vez. O que tem se tornado febre principalmente entre os jovens. O que parece e pode tornar se um vício, assim como o uso excessivo do celular e redes sociais.

O sentimento de tristeza e solidão podem potencializar a permanência de horas a fio dedicadas a uma serie, e a dedicação a prática do “binge watching” pode também potencializar os sentimentos negativos, essa prática em muitos casos acaba sendo utilizada para fugir desses sentimentos, e não lidando com tais sentimentos acabamos perdendo nosso controle, aumentando nossa propensão a apertar o botão de “próximo” no Netflix sem nem pensar.

O “binge watching” pode até parecer um vício inofensivo, mas muito pelo contrário, é algo que não pode ser negligenciado. Alguns problemas de saúde como a Fatiga física podem estar relacionados com esse tipo de prática.

Em muitas situações, mesmo conscientes dos problemas, as pessoas não conseguem resistir a assistir mais e mais episódios seguidos e, assim, passam a apresentar algumas mudanças comportamentais como o isolamento, a falta de interesse por atividades e a negligencia quanto as suas relações pessoais e de trabalho.”

Imagem retirada do blog {Des} Construindo o Verbo

Viralização do Youtube

Dados comprovam o crescimento da influência da plataforma

Por Milena Garcia e Vinicius Lage

Photo by Christian Wiediger on Unsplash

“Oi, meus queridos, sejam muito bem-vindos ao meu canal”. Essa é apenas mais uma saudação do início de um vídeo do maior site de streaming do mundo, o Youtube.

Criada em 2005, a plataforma atinge mais de um 1 bilhão de pessoas no mundo, equivalente a um terço da internet. As possibilidades são quase infinitas e praticamente todo conteúdo é aceito, basta ter uma câmera e acesso a internet e pronto, você é youtuber.

Quem diria que um vídeo em um zoológico, colocado no site pelo seu co-fundador, Jawed Karim, tomaria o lugar dos e-mail’s recheados de vídeos engraçados, moda no início dos anos 2000. Gatos tocando piano, animações cantando “The Lion Sleeps Tonight”, duas crianças dançando “Crazy Frog” e todo o tipo de situação começou a se tornar viral, graças à criação de Karim.

O Youtube foi comprado em 2006 por U$1,65 bilhões e em 2014 — ano da última vez que a Alphabet, conglomerado de empresas do Google, publicou resultados separados — já valia mais de U$40 bilhões. Simples, ágil e de fácil acesso, lançou funcionalidades para aumentar ainda seus rendimentos, como o Youtube RED e, agora em 2018, o Youtube Music e o Youtube Premium.

Hoje, temos as principais estrelas da música lançando seus videoclipes e fazendo enorme sucesso na rede. Luís Fonsi já ultrapassou a marca de 5 bilhões de visualizações com Despacito. Justin Bieber foi descoberto graças ao site e o coreano Psy levou Gangnam Style para o mundo inteiro e foi o primeiro vídeo da história a bater 2 bilhões de visualizações — fazendo com que o Youtube alterasse seu código para permitir tal número.

O sucesso é tamanho que muitos começaram a se aventurar, gravar seus próprios vídeos e a irem em busca de se tornar o próximo Pewdiepie — detentor do recorde de 65 milhões de inscritos — ou, para os brasileiros, Whindersson Nunes.

“Jornalista do futuro”, o jovem Júlio César, tem 139 inscritos e aproximadamente 3700 visualizações totais. Dessas, 530 vieram de uma gameplay de um jogo chamado Gênio Quiz. Seu conteúdo, todavia, é focado nas suas vivências e em explicar assuntos relativos ao jornalismo, como a Guerra Civil do Iêmen, PEC 241 e da recente greve dos caminhoneiros. A necessidade de se expressar foi um dos motivos para iniciar o canal “Eu comecei a fazer os vídeos porque gostava muito de me comunicar com as pessoas sobre diversos temas mas sentia que não tinha tanto espaço pra discutir no cotidiano”.

A frase no início do texto, aliás, é dele. Jornalista em formação, o rapaz de Uberaba acredita que a plataforma ajudará na sua futura área de atuação “A liberdade que o profissional tem para explorar assuntos que muitas vezes não poderiam ser discutidos em algumas linhas editoriais, a expressão de sua opinião, deixando claro que isto é feito e a interação direta com o público”.

Aproximadamente 100 milhões de brasileiros têm acesso ao youtube diariamente e esse número tende a aumentar, pois as novas gerações têm deixado a televisão de lado e buscado alternativas de entretenimento, como o Youtube, a Netflix, a TwitchTv, o Spotify, entre outros canais de streaming. Como o próprio nome já indica (you=você; tube=tubo, uma gíria para televisão), essa plataforma vem com o objetivo de permitir que seus usuários televisionem o conteúdo em inúmeras áreas, como música, gastronomia, jogos, esportes, moda, maquiagem, religião, memes, entre outros.

O sucesso dessa ideia pode ser apontado pelo fato de que muitos youtubers exercem mais influência sob o público jovem da atualidade do que muitos atores e cantores, levando o título a se tornar uma profissão extremamente rentável para alguns. Todavia, não é fácil conseguir crescer no meio e apenas 3% deles atingem a marca de visualizações suficientes para obter dinheiro. Outros meios como Adsense e patrocínio de marcas podem ser fontes de lucro, algo que tem mudado a ideia de publicidade e consumo.

Diante desse novo cenário, os modelos de informação tendem a se adaptar ao que o público está consumindo — a ponto de que programas tradicionais já estão replicando o conteúdo na plataforma-, pessoas tendem a largar profissões formais para buscar uma carreira na internet e crianças sonham com um futuro diferente — o de conquistar inscritos. “E aí, gostou? Não esquece de deixar seu like aqui em baixo, se inscrever no canal e compartilhar nas redes sociais.”

Misoginia na Era Moderna

O Youtube dá voz, mas nem todos querem ouvi-la

Por Milena Garcia

Photo by Jenny Ueberberg on Unsplash

A diferença salarial entre homens e mulheres se tornou um debate comum conforme o avanço e popularização do movimento feminista. Uma pesquisa realizada pelo site de empregos Catho este ano mostra que elas ganham menos em relação aos outros funcionários em todos os cargos, áreas de atuação e níveis de escolaridade estudados e essa diferença pode chegar em até 53%. Além disso, as mulheres ainda são minoria ocupando cargos principais de gestão das empresas. No plano da cultura e produções audiovisuais essa disparidade se repete quando apenas 20 % dos filmes lançados no Brasil são dirigidos por mulheres e metade desses são documentários, o que aponta a presença feminina em conteúdos de baixo orçamento. No Youtube a realidade não seria diferente. O nome disso é misoginia, uma forte característica da sociedade machista.

Misoginia é o ódio ou aversão a tudo relacionado ao sexo feminino, incluindo características relacionadas ao estereótipo da mulher, como sensibilidade e vaidade. Por mais que o Youtube seja uma plataforma a qual possibilita que qualquer pessoa com acesso a internet possa se expressar, os números de youtubers femininas e masculinos de sucesso mostra uma repulsa ao que é produzido por mulheres em diversos segmentos. De acordo com o ranking de maiores youtubers brasileiros (segundo dados do socialblade.com), o mais popular é Whindersson Nunes, com 30 milhões de seguidores, acompanhado por uma sequência de homens, até que na oitava posição está Kéfera Buchmann, com 11 milhões. Consecutivamente mais canais masculinos e raras mulheres entre as principais colocações.

Mesmo esses números números não sendo pequenos, eles mostram a dificuldade do gênero feminino para se destacar na produção de conteúdos igualmente relevantes. Existe uma ideia implícita de que o que é produzido por homens é universal, enquanto o que é feito por mulheres é só para mulheres. E quando há alguma consegue sobressair à esse padrão, como a Kéfera, ela é uma exceção. Isso também é refletido nos vídeos “em alta” da semana e, consequentemente, na rentabilidade dos canais.

Thais Patti é formada em química pela Unifesp, mas há 1 ano e meio resolveu seguir suas influências e criar um canal com o seu nome, onde poderia expressar os conhecimentos sobre moda, maquiagem, viagens e rotina. Hoje, com quase 17 mil inscritos, ela afirma não sentir dificuldade para se estabilizar dentro do seu nicho: “As mulheres têm sim um espaço gigantesco dentro do Youtube, porém a competição é muito maior entre as mulheres do que entre os homens. Os temas abordados por mulheres normalmente atendem apenas o público feminino, né? Já o conteúdo dos grandes youtubers homens cativa os dois públicos, o que torna o espaço deles muito maior.”

Ao optarem por essas temáticas relacionadas ao “universo feminino”, as youtubers são taxadas como fúteis e superficiais, mas ao aderirem outros nichos de assunto continuam presas a estereótipos. Por exemplo, se um homem faz um canal sobre culinária, ele tem um canal sobre culinária. Se uma mulher aborda o mesmo tema, ela tem um canal feminino sobre culinária, limitando seu público. No universo dos jogos, a separação é ainda mais absurda e pode ser vista diariamente nos casos de assédio e comentários machistas nesses canais. Isso porque o gênero masculino raramente consome conteúdo do gênero oposto, incluindo no cinema. Por um lado, existe a questão da identificação com o conteúdo e seu emissor, mas é limitado dizer que elas só gravam vídeos sobre gravidez, menstruação e maquiagem. Existem muitas mulheres falando com qualidade sobre todos os temas possíveis no Youtube, assim como os homens.

Percebendo essa disparidade, a própria plataforma de vídeos promoveu uma campanha especial para o Dia das Mulheres em 2016 que empoderava as mulheres e as incentivava a participar mais ativamente no Youtube — já que também há uma grande diferença entre o número de canais. No projeto foram reunidas seis vozes femininas de diferentes lugares do mundo para homenagear líderes históricas em um vídeo original e discutir os problemas do mercado de trabalho e outros aspectos gerados pelo machismo. Entre elas está a brasileira Julia Tolezano, a Jout Jout. A seguir o vídeo das influencers exaltando os grandes feitos femininos.

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Victor Monteiro

Jornalista, fã de música, esporte, histórias, estórias e novas perspectivas